segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Creatina - A polêmica está de volta!

Estudos recentes reacendem a discussão sobre a proibição da creatina no Brasil. Estudiosos provam através de pesquisas o quanto ela pode ser benéfica desde que seja utilizada corretamente

Creatina, substância composta por três Aminoácidos (arginina, glicina e metionina),participa do sistema energético servindo como substrato energético principalmente para atividade de alta intensidade e curta duração, tornando-se uma alternativa que pode contribuir na melhora do desempenho físico, mediante o aumento da quantidade de fosfocreatina (PCr) muscular, potencializando a capacidade de tolerância às alterações ácido-base musculares. Além disso, proporciona aumento da massa magra, através da retenção de água intracelular e provavelmente da síntese protéica; aumento da ressíntese de ATP (adenosina trifosfato), em períodos de recupera­ção, durante esforços intensos; e, mais recentemente, na melhora da sensibilidade à insulina (JUHN; TARNOPOLSKY, 1998; PERSKY; BRAZEAU,2001;VOLEK e colaboradores, 2004; ZAJAC; WASKIEWI;PILlS, 2001).

A quantidade de creatina total (CrT) no organismo envolve a combinação entre as formas fosforiladas e livres. Enquanto a forma fosforilada de creatina corresponde a aproximadamente 60% das reservas de CrT, os outros 40% estão estocados na forma de creatina livre. Além disso, a maior reserva de CrT está armazenada no músculo esquelético (95%) e o restante (5%) pode ser encontrado no cora­ção, no cérebro, na retina e nos testículos (GREENHAFF, 1997).
Na ausência da creatina exógena, a taxa de turnover diário da creatina em creatinina é de aproximadamente 1,6%. Em um homem de 70 kg com quantidade de CrT em torno de 120 g, a taxa de turnover diário é próxima a 2 g. Esse valor pode ser reposto por meio das fontes endógenas e exógenas. Acredita-se que a ingestão dietética de creatina é de 19 por dia, obtida por hábitos nutricionais saudáveis, dieta balanceada e variada. Os principais alimentos fontes são: carne bovina, suína e peixes como arenque, salmão, atum, bacalhau e linguado.

Diversos estudos têm relatado importantes modificações na composição corporal durante e imediatamente após diferentes períodos de suplementação com creatina. A maioria dessas investigações tem encontrado aumento bastante variável, de 0,5-3,0 kg, na massa corporal, freqüentemente acompanhado pelo ganho da massa corporal magra ou massa livre de gordura.
O possível mecanismo responsável pelo ganho de massa corporal durante o uso de suplementação de creatina em curto prazo (14 dias) envolve o aumento na retenção de água no espaço intramuscular, produto do transporte celular de creatina com sódio (HULTMAN e colaboradores, 1996). Portanto, como a creatina é uma substância osmoticamente ativa, com potencial para induzir aumento no influxo de água do meio extracelular para o meio intracelular, um aporte elevado de creatina exógena pode desencadear um processo de hipertrofia sarcoplasmática, em razão do aumento da hidratação no compartimento intracelular (ZIEGENFUSS, LOWERY & LEMON, 1998).

O aumento da hidratação celular, verificada nos primeiros dias de suplementação com creatina, pode favorecer também o aumento da síntese ej ou redução da degradação protéica em um período de tempo mais prolongado, resultando em hipertrofia miofibrilar (BEMBEN & LAMONT, 2005; KREIDER e colaboradores, 1998).

Durante o exercício físico intenso de duração curta, o sistema ATP-CP (adenosina trifosfato e fosfocreatina) é o principal fornecedor de energia para o trabalho muscular. Nesses esforços intensos, a demanda de ATP nos músculos ativos, cresce acentuadamente. Desse modo, a continuidade do esforço passa a ser extremamente dependente de reposição rápida e contínua desse substrato energético. Nessas condições, as reservas de CP podem ser totalmente depletadas em aproximadamente 10 segundos, uma vez que a degradação da fosfocreatina contribui para a regeneração de ATP (BALSON, SÓDERLUND & EKBLOM, 1994). Com base nessas evidências, acredita-se que o aumento das reservas musculares de creatina total e CP, induzido pela suplementação de creatina, possa favorecer a melhoria do desempenho físico em exercícios de alta intensidade e curta duração, uma vez que o aumento da disponibilidade de CP no músculo pode acelerar a ressíntese de ATP.

De um modo geral, as pesquisas têm conseguido confirmar essa hipótese em indivíduos suplementados com creatina, sobretudo em esforços intensos e repetitivos, com duração entre 2 e 30 segundos, visto que, como apre­sentado anteriormente, a contribuição dos depósitos de CP nesse tipo de atividade é elevada (HULTMAN e colabo­radores, 1991).
Já que está comprovada toda a eficiência desta substância, porque no Brasil a sua comercialização é proibida? A justificativa da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relata que não há uma legislação específica proibindo o uso da creatina em alimentos para praticantes de atividade física, existe uma legislação de alimentos para praticantes de atividade física, a Portaria n0222j98.

A legislação brasileira é positiva, só podendo ser registrado o que nela está previsto. Todos os produtos que pleitearam registro usando creatina foram indeferidos por não comprovar a segurança e a finalidade de uso para praticantes de atividade física. Relatam ainda que em 2001 foi realizada uma consulta pública sobre creatina nesta gerência, baseado em um alerta sanitário expedido pela agência francesa. Mas o setor produtivo não enviou até a data acordada nenhum estudo científico que comprovasse a segurança de uso.

Um dos possíveis efeitos adversos mais discutidos consiste na suspeita de que a suplementação de creatina po­deria provocar estresse renal, o que causaria sérios danos na filtração glomerular renal. Contudo, no último consenso publicado em 2007 pela "Internacional Society of Sports Nutrition" a suplementação de creatina é consi­derada segura em quantidades inferiores a 25 g; dia, em indivíduos saudáveis. O consenso descreve que nenhum dos estudos que investigaram o efeito agudo ou crônico da suplementação de creatina em indivíduos saudáveis identificou problemas nas funçôes renais estudadas, ou seja, na excreção de creatinina e uréia. Portanto, as taxas de filtração glomerular e reabsorção tubular, aparentemente, se mantêm inalteradas com a suplementação de creatina (BUFORD e colaboradores, 2007). Porém, observou-se que a excreção de creatinina urinária teve aumento de aproximadamente 90%, fato comum já que a quantidade suplementada é superior a síntese endógena e ao consumido alimentar. Além disso, não há estudos demonstrando modificações nos níveis de enzimas hepáticas plasmáticas e alterações na pressão arterial tanto sistólica quanto diastólica (MIHIC e co­laboradores, 2000; POORTMANS e colaboradores, 1997; ROBINSON e colaboradores, 2000).

Vale ressaltar que a creatina não é banida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) pois trata-se de uma substância presente nos alimentos e não validaria os testes para comprovação de possível doping. O consenso relata que não há distinção creatina com o carboidrato, por exemplo, para a melhora do desempenho físico. Da mesma forma que altas quantidades de carboidratos são utilizadas para aumentar os estoques de glicogênio muscular e assim melhorar o desempenho, o uso de suplementos com creatina aumentaria as reservas de creatina e fosfocreatina musculares. Outro ponto argumentado a não proibição é o uso da creatina na prática clínica, por exemplo, no tratamento de lesões músculo-esqueléticas, distrofias musculares, em que a substância propicia efeitos neuroprotetores, entre outros benefícios (BUFORD e colaboradores, 2007).

Diante de tais informações, cabe aos órgãos responsáveis do nosso país revisar a decisão tomada e orientar a população sobre o uso adequado.

Forte abraço a todos(as) e ótimos treinos.

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