terça-feira, 16 de setembro de 2008

Além de feridas, anabolizantes podem levar a câncer e feminização

Muitos efeitos colaterais dos anabolizantes são divulgados na mídia, como a infertilidade, a queda de cabelo, o surgimento de espinhas e a agressividade. No entanto, há um efeito pouco divulgado e que foi divulgado por uma vítima na Alemanha: feridas na pele.
Segue reportagem publicada no portal G1 sobre o tema:

Além de feridas, anabolizantes podem levar a câncer e feminizaçãoJovem alemão acabou com a pele desfigurada pelo uso de esteróides.Médico explica ao G1 o que essas substâncias fazem e quais seus riscos.
Marília JusteDo G1, em São Paulo


O caso do jovem alemão que acabou com o peito e as costas desfigurados por cicatrizes pelo uso de anabolizantes chamou a atenção nesta semana e fez muitos usuários dessas substâncias duvidarem da história. Ouvido pelo G1, no entanto, o médico esportivo Renato Romani alerta: o problema do rapaz não só é comum, como é a menor das conseqüências do uso de esteróides. A prática, ele alerta, pode levar a transtornos psiquiátricos, à feminização do homem e ao câncer de fígado e de testículos. “Quem afirma que usar anabolizante é seguro no esporte é uma pessoa desatualizada, sem acesso às informações científicas e que corre um sério risco”, alerta Romani. Para o especialista da Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo(Unifesp), essa “ilusão” à respeito da segurança do uso de esteróides vêm de dois problemas. O primeiro é a proliferação de sites e livros que alegam que não há perigo na prática. “Essas publicação não têm base nenhuma na ciência”, diz ele. O outro problema é que algumas pessoas que tomam anabolizantes não relacionam os problemas de saúde que apresentam. “O Arnold Schwarzenegger teve que fazer uma cirurgia para trocar uma válvula do coração e isso certamente está ligado ao uso de esteróides. Mas ninguém relacionou as duas coisas”, explica o médico.
Como funciona Os anabolizantes funcionam todos basicamente da mesma maneira: ao aumentar a quantidade do hormônio masculino, a testosterona, no organismo. Aumentar muito.
A testosterona, por sua vez, induz as células a aumentar o seu volume -– é isso que causa o “crescimento” dos músculos. E “animaliza” o homem. “Quem toma fica mais ‘primata’; mais violento e agressivo. O que vai aumentar sua vontade de fazer exercícios físicos e potencializar ainda mais o efeito”, diz Romani.
O resultado é um “fertilizante” da prática esportiva. O corpo que seria obtido com três anos de treinamento é conseguido em apenas seis meses. “Para um jovem de 25 anos, significa que ele precisa esperar apenas um ano por um resultado que só chegaria quando ele batesse os 30,” explica o médico. Tudo muito lindo, não fossem os perigos. Câncer e feminização Com o aumento do volume celular, o fígado fica sobrecarregado –- o que pode causar problemas hepáticos e aumentar o risco de tumores.
O uso exagerado do hormônio também causa perda de cabelo e casos de acne (que foi o que ocorreu com o rapaz alemão; uma forma severa da doença causou as feridas que o marcaram). Há também problemas de fertilidade: como há testosterona demais circulando, o corpo entende que tem espermatozóides suficientes e fecha a fábrica. O resultado é infertilidade. Em muitos casos, irreversível. E o aumento do risco de câncer de testículos. O problema que mais chama a atenção, no entanto, é causado pelo delicado equilíbrio entre o hormônio masculino e o feminino.
Quando a pessoa toma testosterona extra, o organismo aumenta a produção do estrogênio, o hormônio feminino. Isso causa o surgimento de características de mulheres no corpo masculino: como mamas que até podem produzir leite. A droga também afeta o cérebro. Há casos de homens que tomam anabolizantes como droga recreativa e de outros que ficaram com distúrbios de imagem. Da mesma maneira que uma menina com anorexia não consegue “ver” que está magra, o rapaz não consegue ver que está grande. “Ele se olha no espelho e se acha sempre pequeno, sempre acha que pode crescer um pouco mais”, explica Romani. Segurança O especialista explica que os esteróides são usados em quantidades mínimas na medicina apenas para pessoas que sofreram perda muscular extrema e que precisam se recuperar, sempre acompanhado de exercício físico. “Na medicina, se usa uma dose ‘x’ em pessoas extremamente debilitadas. Daí veio alguém um dia e decidiu usar uma dose cem vezes ‘x’ em pessoas saudáveis. Dá para imaginar que alguém que faz isso não é lá muito esperto”, afirma o médico. Para quem quer ganhar músculos, a única opção é se exercitar e se aceitar. “É genética. Algumas pessoas vão ser grandes, outras vão ser magras. Algumas têm facilidade para ganhar músculos, outras vão precisar se exercitar muito mais e embora fiquem em forma jamais ficarão do tamanho de um armário”, diz Romani. Quem duvida do resultado do esporte só precisava ficar de olho nas Olimpíadas. “Os Jogos Olímpicos realizaram centenas de testes antidoping e mostraram que é possível sim chegar a resultados fantásticos sem a ajuda e os riscos dos anabolizantes.” E para quem anda falando por aí que conhece “várias pessoas” que tomam esteróides e nunca tiveram problemas, o médico deixa o recado. “Há pessoas que cheiram cocaína e nunca se viciam. Há pessoa que fazem sexo desprotegido e não pegam Aids. Isso não significa que cocaína e sexo sem proteção são seguros”, explica. “Remédio seguro não causa problema nenhum em ninguém nunca. Com a quantidade de câncer, infertilidade e transtornos psiquiátricos que vemos, dizer que os anabolizantes são seguros é irresponsabilidade”, diz ele.
Uso de anabolizante faz pele de jovem alemão 'explodir'
Rapaz de 21 anos era fisiculturista amador e tomava esteróides. Anabolizante fez surgir caso severo de acne que formou grandes feridas.
Um jovem alemão sentiu literalmente na pele o preço do uso de anabolizantes para aumentar músculos.
As drogas (250 mg de enantato de testosterona e 30 mg metandienona, duas vezes por semana) induziram o surgimento de uma forma severa de acne, que criou feridas profundas, com abcessos e pústulas, em seu peitoral e nas suas costas. O rapaz de 21 anos também apresentava febre, encolhimento de testículos e redução na concentração de espermatozóides. Todos os sintomas desapareceram com a interrupção do uso dos esteróides e com a ajuda de antibióticos. As cicatrizes, no entanto, vão ficar para sempre. O caso foi apresentado na revista especializada "The Lancet" pelos médicos do departamento de dermatologia da Universidade Heinrich-Heine, em Dusseldorf, na Alemanha, que atenderam o rapaz.
FONTE:
Canal de notícias G1

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